Orgulho e decepção, sentimentos opostos que se misturam quando se dá ênfase à atividade policial militar hoje. A fala de um profissional da área, certamente, irá denotar a satisfação em poder ajudar a população com seu trabalho diuturno. Contudo, à medida em que um militar se torna sujeito ativo do Sistema de Segurança Pública, aumenta a decepção ao perceber a forma preconceituosa como os agentes da lei são tratados, aos olhos da sociedade e, ainda, considerando algumas situações comuns ao relacionamento interpessoal dentro das corporações militares, abusos de autoridade, assédio moral e o desrespeito, encontram abrigo dentro destas corporações e tais subculturas são engendradas do curso de formação ao exercício da Profissão. Tudo isso, graças ao respaldo dado por um regulamento retrógrado e segregador.
O primeiro contato com a Instituição militar se dá no Curso de Formação e lá, via de regra, os novatos recebem o primeiro choque de realidade. Pois, o que deveria ser um curso de formação policial, na realidade, ao menos nas três primeiras semanas, é um digamos... intensivo de habilidades domésticas, aprende-se de tudo um pouco, como ser pedreiro, pintor, faxineiro, tarefas tão comuns, que alguns passam a acreditar que tais habilidades realmente fazem parte de um curso de Segurança Pública. A grade curricular até contempla conteúdos como legislações e técnicas policiais de abordagens mas, por vezes, estas disciplinas perdem espaço para questões pontuais, como: a preocupação com a bota mal engraxada ou a barba mal feita, e isso quase sempre é motivo para uma detenção no final de semana.
Nos relacionamentos sociais e seus eventos, comumente o militar é vítima da generalização. Em festa de amigos ou encontros familiares, faculdade, basta a certeza da atividade profissional deste que aparentemente há um afastamento natural, a conversa muda, assim como a espontaneidade de ações. Neste momento o Policial se descobre como persona non grata, não como indivíduo, mas como profissional. A sociedade apesar de não conhecê-lo, já o considera corrupto, desonesto, sem cultura, sem estudo, brutamontes e até mesmo semi-analfabeto. Com o passar do tempo, ele se cansa de explicar ou pedir o fim da generalização, ele simplesmente passa a ignorar o pré julgamento de suas ações.
O trabalho nas ruas apresenta uma dinâmica de aprendizagens e, entre tantos ensinamentos dos mais antigos, vêm à tona uma velha máxima, que dita que o Policial aprende a passar por três fases na sua atividade profissional: Empolgação, Decepção e Desmotivação. Pode-se citar o exemplo de um policial, motorista de viatura, que diante do entendimento de seu superior, pode ser preso ou obrigado a pagar uma viatura danificada em acidente, ou ainda, quando na inexistência de punição prevista no ordenamento jurídico, ser alcançado por uma punição velada, a exemplo de transferências ou mudança de escala. Esta realidade institucional, poderá ser entendida como mais uma condicionante à fase da Decepção.
Um velho jargão da caserna, diz que: "o militar é superior ao tempo". Na verdade, o tempo é um carrasco e aqueles que permanecem na atividade policial certamente sentirão o peso da árdua tarefa do sacerdócio militar e assim sentem as sequelas de uma profissão arriscada e estressante, comum vê-se a saúde física e emocional se esvaindo, pela falta de uma carga horária, pela falta de expectativa de valorização e ascensão profissional e por fim, pela falta de um Código de Ética que seja pautado na Legalidade, na presunção da inocência e na defesa e amplo contraditório. Enquanto isso, alguns adquirem distúrbios psicológicos, diabetes, hipertensão, outros buscam refúgios nas drogas e no álcool, alguns no suicídio, os que escapam desses ou de outros males ou tragédias, tornam seus momentos de descanso em seu único momento de lazer.
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